Dicas para a criação e a atuação do Comise
Pe. Savio Corinaldesi
Secretário Nacional da Obra de São Pedro Apóstolo
e da Pontifícia União Missionária
O Comise é o Conselho Missionário do Seminário. Já existe e atua muito bem em algumas dioceses, e precisa se espalhar por todo o Brasil. Mas, infelizmente, sobre o assunto quase não existe material impresso em português. Por outro lado, há um número cada vez maior de seminaristas (e o que se diz deles pode ser aplicado aos formandos e formandas das comunidades religiosas, com as devidas adaptações) que desejam prevenir-se contra a tentação de restringir a sua atenção apostólica aos ‘quintais’ da paróquia, da diocese ou mesmo do Brasil.
Estamos de acordo que, pelo batismo, todo cristão é necessariamente e naturalmente missionário. Não há escolha possível. Ou somos missionários ou não somos discípulos daquele que veio ‘para que todos tenham vida e a tenham em plenitude’ (Jo 10,10).
Também há consenso sobre o fato de que qualquer ação pastoral é uma resposta à vocação missionária, digna de todo respeito e estima.
Podemos acrescentar que a Missão ‘além fronteiras’, do jeito que vai ser apresentada a seguir, não merece mais estima e apreço que qualquer outra atividade apostólica. "Não é a geografia que faz o missionário", costumava repetir um grande formador de seminário.
Dito isto, com a mesma convicção, cabe declarar que a preocupação pela Missão ‘além fronteiras’ tem direito de cidadania dentro de qualquer comunidade cristã, com particular força nas comunidades de formação dos futuros agentes de pastoral. Não para ser mais, nem para ser melhor. Simplesmente para ser. Afinal, a urgência do anúncio da Boa Notícia continua atual como no dia em que Jesus mandou os discípulos ‘ao mundo inteiro’.
Portanto, em toda comunidade, em toda paróquia, diocese, país... devem existir pessoas sensíveis à problemática do mundo que existe além das fronteiras da comunidade, paróquia, diocese ou nação. Se acreditamos que somos uma só família, então:
"As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo; e não há realidade alguma verdadeiramente humana que não encontre eco no seu coração. Porque a sua comunidade é formada por homens, que, reunidos em Cristo, são guiados pelo Espírito Santo na sua peregrinação em demanda do reino do Pai, e receberam a mensagem da salvação para a comunicar a todos. Por este motivo, a Igreja sente-se real e intimamente ligada ao gênero humano e à sua história" (Gaudium et Spes, 1).
Isto quer dizer que, dentro dos vários grupos existentes na comunidade ou na paróquia e diocese (catequese, liturgia, dízimo, ministros da Eucaristia, vicentinos, pastoral a saúde, pastoral carcerária...) deve haver algumas pessoas que ‘recordem’ aos irmãos e irmãs de fé que os confins da nossa caridade devem superar os limites geográficos da paróquia ou da diocese.
Evidentemente seria melhor se todos os membros da comunidade tivessem espírito litúrgico, interesse catequético, engajamento em favor dos presos, dos doentes, dos pobres em geral... e todos promovessem a formação da consciência missionária ‘além fronteiras’... Seria bonito, mas não é possível. Ninguém pode fazer tudo. Mais interessante é que cada grupo mantenha vivo o seu carisma e o coloque à disposição dos outros, sem estrelismo, mas também sem omissão.
Como imaginar, então, o Comise num seminário?
Por tratar-se de um ‘conselho’, é necessário que seja formado por várias pessoas. Alguém deverá dar o primeiro passo. Pode ser o reitor, ou um dos formadores, ou mesmo um seminarista que ouviu falar do trabalho missionário e achou interessante. Essa pessoa dá o primeiro passo, falando da sua idéia com outros membros da comunidade, procurando interessá-los a respeito do assunto.
Às vezes há acontecimentos que facilitam. Por exemplo, um padre da diocese está partindo como missionário para o Japão. A comunidade do seminário não vai fazer nada? Não vai convidá-lo para partilhar sua experiência? Não prepara uma Missa de despedida? Não leva o missionário nas salas da catequese e nos grupos em que os seminaristas fazem estágio pastoral? Não vai manter contato com ele? E os outros missionários e missionárias da diocese que já estão na luta, em terras distantes? Certamente vai arranjar seus endereços. Vai fazer uma campanha de mensagens para renovar os vínculos espirituais com eles. Não são acaso eles os enviados de nossas Igrejas, não vão em nosso nome?
Outro ponto de partida: a TV mostrou a tragédia do tsunami no oriente ou a guerra no Congo. Os seminaristas não vão colocar uma intenção na oração dos fiéis da missa ou na celebração dominical que eles animam? Não vão fazer algum gesto de solidariedade? Não vão convidar os doentes que visitam nos hospitais ou casas de família para oferecerem seus sofrimentos em favor do trabalho de nossos missionários e missionárias?
A partir de iniciativas pequenas como essas é possível reunir uma equipe que se empenhe em manter vivo o interesse missionário em todos os grupos e pastorais.
Não existe regra fixa quanto à composição do Comise: o importante é que tenha claros seus objetivos e conserve boa comunicação com todos os seminaristas e com as pastorais em que eles estão engajados.
Os membros do Comise (que deveria ter suas reuniões periódicas) apontam uma diretoria (que deverá ter a aprovação do reitor), a ser avaliada todos os anos. Não precisa se preocupar, pelo menos no começo, com uma estrutura muito burocrática. O importante é o desempenho.
O Comise está presente nas assembléias e em outros momentos da vida da comunidade do seminário.
Objetivos do Comise são:
Ø informar a comunidade sobre a situação do mundo ‘além fronteiras’ (divulgação de revistas missionárias, atualização dos endereços dos missionários da diocese, presença no mural do seminário, com recortes, cartazes, informes dos principais acontecimentos da vida do mundo e da Igreja...);
Ø formar a consciência missionária dos seminaristas (pregações, encontros e retiros com tema missionário, convite a missionários e missionárias que passam na diocese....);
Ø estimular a colaboração pessoal (escolha missionária ‘além fronteiras’ por parte de seminaristas e de jovens com os quais os seminaristas trabalham....);
Ø promover a cooperação solidária: valorizar a Campanha missionária do mês de outubro, organizar com criatividade a coleta do Dia Mundial das Missões (penúltimo domingo de outubro), propor iniciativas especiais de socorro a missionários específicos ou também a campanhas de solidariedade promovidas por entidades confiáveis... Não deve faltar a oferta material pessoal como fruto de sacrifícios livremente assumidos...
É evidente que a atenção aos grandes problemas da humanidade não dispensa os membros do Comise de um generoso engajamento na vida da comunidade local. Pelo contrário, a experiência do trabalho missionário deve multiplicar a corajosa dedicação aos problemas domésticos.
Para encerrar, vamos ler o que escrevem nossos bispos nas Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja do Brasil (2003-2006):
"Nossas comunidades eclesiais, apesar de sobrecarregadas de tarefas e muitas vezes contando com escassos recursos, devem ‘dar de sua pobreza’ também para a evangelização ad gentes ou para as Missões em outras regiões e além fronteiras. Uma Igreja local não pode esperar atingir a plena maturidade eclesial e, só então, começar a preocupar-se com a Missão além de seu território. A maturidade eclesial é conseqüência, e não apenas condição, de abertura missionária." (DGAE n. 138)
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